quarta-feira, 7 de maio de 2014

Diversidade cultural e desigualdade social no Brasil

Por Patrícia Veronesi Batista
Quinta-feira, 10 de abril de 2014

O Brasil é um país de dimensões continentais, com mais de 190 milhões de habitantes[1], apresenta um quadro extremamente diverso quanto às manifestações étnico-culturais, por refletirem a miscigenação dos povos (indígenas, africanos, imigrantes europeus e asiáticos) que contribuíram na formação do país.
Esse multiculturalismo muito discutido durante a história e formação da nação brasileira tem servido de embasamento para um discurso ufanista, de supervalorização da pluralidade de identidades sociais, das peculiaridades de um "(...) país tropical, bonito por natureza (...)"[2], mas que na prática possui "cerca de 200 povos indígenas, mais de 2.200 comunidades quilombolas, 97,5 milhões de mulheres, 93,5 milhões de pessoas negras" (PINAD apud HEILBON; ARAÚJO; BARRETO, 2010, p. 54), expostas à práticas de exclusão e discriminação, sendo inferiorizados por perspectivas hierárquicas, nas quais o homem, o branco, o heterossexual e o cristão católico,correspondem aos padrões legítimos de civilidade.
Desta forma, vê-se que há uma tendência a enfeitar o fenômeno diversidade cultural, como sendo a maior riqueza do povo brasileiro, o que constitui a identidade da nação, para camuflar as desigualdades sociais, maquiar o abismo que se instaura entre grupos desprovidos de participação e equidade social.
Dentre os principais exemplos de diversidades que transformaram-se em desigualdades sociais estão: a escravização dos negros, povo privado de liberdade, de acesso a bens materiais, de reconhecimento, justiça e dignidade humana, pela diferença na cor da pele; as mulheres, vistas por muitos anos como naturalmente fadadas à submissão e ao propósito da reprodução; os portadores de necessidades especiais, marginalizados por desproverem de mobilidade, acesso a recursos e serviços; os idosos, que por vezes são afastados do convívio com outras gerações, simplesmente por terem envelhecido, por não apresentarem a mesma disposição de outrora, enfim, poderíamos citar uma infinidade de casos, pois são inúmeras as diferenças culturais/comportamentais na nossa sociedade, estão presentes desde a linguagem, danças, vestuários, até as tradições, preceitos, dogmas e estilo de vida.
Contudo a diversidade não pode tornar-se sinônimo de desigualdade, não pode ser compensada com a ideológica valorização das expressões culturais, deve ao contrário, priorizar a garantia de acesso à informação, saúde, educação, segurança, lazer, esporte, moradia, transporte, justiça, emprego, distribuição de oportunidades, reconhecimento social e assim, ser possível ver igualdade humana mesmo onde há diferenças.
Alcançados esses direitos elementares, poderemos, por que não, nos ater às singularidades culturais do povo brasileiro.

REFERÊNCIAS
FUNDAÇÃO IBGE. CENSO DEMOGRÁFICO 2010. Disponível em: . Acesso em: 26 mar. 2014
HEILBON, Maria Luiza; ARAÚJO, Leila; BARRETO, Andreia. Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça: módulo 1. Rio de Janeiro: CEPESC; Brasília: Secretaria de Políticas para as mulheres, 2010.




[1]Segundo dados do Censo 2010.
[2] Música "País Tropical", de Jorge Bem Jor e Wilson Simonal.

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