PLANOS DE AULA





PLANOS DE AULA








O 13 DE MAIO E A ESCOLA: A ESCRAVIDÃO NO BRASIL
Publicado em 10 de maio de 2012
Por Noé Gomes

No dia 13 de maio de 1888 oficialmente é mencionado no calendário oficial, como marco final da escravidão no Brasil, que desde o período colonial, em 1500, os seus colonizadores (os portugueses) adotaram o escravismo como mão-de-obra para a extração de nossas riquezas.

O processo de escravidão no Brasil, começou com os indígenas, quando nos 30 primeiros anos de ocupação portuguesa em solo brasileiro viveu o ciclo da extração do pau-brasil para a Europa, onde os indígenas eram usados neste momento, tendo os portugueses valendo-se do escambo para a concretização deste processo. Nos anos posteriores, teve inicio o Ciclo do Açucar, onde os colonizadores tentaram cooptar a mão-de-obra escrava indígena, mas sem sucesso. Ainda no século XVI, em substituição a mão-de-obra nativa, vieram os primeiros negros que até o século XIX, que foram subjugados ao poder dos colonizadores portugueses.

A mão-de-obra escrava negra, foi substituída pelos colonizadores europeus a partir da segunda década do século XIX, desde então o negro torna-se um agente á margem da sociedade, pois liberto do processo escravocrata acaba vivendo a falta de oportunidades.

O 13 de maio é contestado pelo Movimento Negro, que elegeu o dia 21 de novembro como a data da Consciência Negra, mas porque não fazer de hoje, uma data de reflexão? Mesmo sendo oficialista, penso que o 13 de maio pode servir para o debate e reflexão do negro hoje. Este debate tem que ser feito principalmente na Escola. O antropólogo Kabengele Munanga, na página 15 do livro “Superando o Racismo na Escola”, na condição de organizador da obra, faz um apontamento importante:

Partindo da tomada de consciência dessa realidade, sabemos que nossos instrumentos de trabalho na escola e na sala de aula, isto é, os livros e outros materiais didáticos visuais e audiovisuais carregam os mesmo conteúdos viciados, depreciativos e preconceituoso em relação aos povos e culturas não oriundos do mundo ocidental. Os mesmos preconceitos permeiam também o cotidiano das relações sociais de alunos entre si e de alunos com professores no espaço escolar. No entanto, alguns professores, por falta de preparo ou por preconceitos neles introjetados, não sabem lançar mão das situações flagrantes de discriminação no espaço escolar e na sala como momento pedagógico privilegiado para discutir a diversidade e conscientizar seus alunos sobre a importância e a riqueza que ela traz à nossa cultura e à nossa identidade nacional. Na maioria dos casos, praticam a política de avestruz ou sentem pena dos “coitadinhos” (…)

Proponho a todos nós docentes de escolas públicas e/ ou privadas a fazermos uma reflexão crítica sobre a simbologia desta data. Afirmar que o 13 de maio é uma data oficialista, o que não deixa de ser verdade, é muito pouco! Penso que não pode haver um hiato entre o 13 de maio e o 21 de novembro. Por isso, esta data pode servir de pontapé inicial de uma reflexão sobre o papel do negro em nossa história.

Numa visão de uma “História Vista de Baixo”, o 13 de maio com certeza é uma data que nada tem de popular e por isso no ambiente escolar podemos suscitar a discussão ou a inquietação em nossos alunos ao expôr o questionamento da sua validade histórica e talvez possamos trazer em nosso fazer pedagógico a contradição de ideias e não uma visão única e acada dos fatos históricos.

Para auxiliarmos nesta reflexão, é que trazemos o programa “Caminhos da Reportagem” sobre o negro no Brasil, um programa feito às vésperas do dia 21 de novembro e que fala da situação do negro, no Brasil do século XXI. Assista o programa na aba VÍDEOS desse blog.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
MUNANGA, Kabengele (org,). Superando o Racismo na escola. 2ª edição revisada. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2005.

O livro Superando o Racismo na Escola está disponível para download neste blog.

Fonte: Portal Geledés. Disponível em: <http://www.geledes.org.br/o-13-de-maio-e-escola-escravidao-brasil/>. Acesso em: 14 jul. 2014.


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CONSCIÊNCIA NEGRA
Publicado em 7 de novembro de 2013
Autor: André Luis Rosa e Silva é mestre em Educação, professor de Literatura e de Língua Portuguesa

As contribuições africanas para a formação e a constituição da sociedade brasileira fazem parte do imaginário coletivo nacional. Para compreender o que é o Brasil em suas raízes mais profundas, é fundamental a análise acurada das vertentes dessa numerosa contribuição em seus vieses cultural, social, afetivo, musical, literário, artístico, religioso e arquitetônico. É espantoso, porém, o modo como ainda persistem dúvidas, erros, controvérsias, preconceito e desconhecimento da história dos negros no Brasil quando se aborda o tema consciência negra na escola. Para mudar esse quadro, é preciso abandonar os velhos clichês e apresentar o tema de maneira mais propositiva, buscando o conhecimento e o reconhecimento das tradições afro-brasileiras. Só assim é possível dirimir as discrepâncias e a infâmia dos mais de três séculos de escravidão.

Quando se fala nas artes, na música e na literatura, são muitos os nomes afro-brasileiros que vêm à tona entre os principais vultos de nossa história: Zumbi dos Palmares, herói da liberdade, mito fundador da ideia de autonomia nacional; Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, criador de importantes obras da arte barroca brasileira; o poeta Cruz e Souza, renovador das letras nacionais, que colocou a literatura brasileira em consonância com seu tempo; o romancista Lima Barreto, autor da mais autêntica descrição das idiossincrasias e contradições da Primeira República; os engenheiros Rebouças, responsáveis pela construção da estrada de ferro Curitiba-Paranaguá, uma das obras de engenharia mais importantes do século 19, que até hoje impressiona pela ousadia; os pintores Estevão Silva, Emmanuel Zamor, Artur e João Timóteo da Costa; os esportistas Leônidas da Silva, Garrincha, Ademir da Guia, João do Pulo, sempre lembrados entre os mais autênticos heróis populares brasileiros; os músicos Henrique Mesquita, Joaquim Callado, Anacleto de Medeiros, Pixinguinha, João da Baiana, Clementina de Jesus, Sinhô e Cartola, fundadores da música brasileira. A citação poderia continuar indefinidamente, acrescida de nomes plenamente reconhecíveis nas mais diversas áreas e indissociáveis dos maiores feitos nacionais.

Mesmo assim, é possível afirmar que a maneira como a escola trata do tema da consciência negra é marcada, em geral, por superficialidade – ainda que a abordagem tenha evoluído bastante nos últimos tempos graças, sem dúvidas, às ações afirmativas e à abordagem mais positiva da história dos negros no Brasil.

Partindo da diversidade que marca a influência africana na cultura brasileira, é plenamente possível realizar ações transdisciplinares para desenvolver o tema na escola. É um grande desafio aos mestres pensarem em métodos de inclusão da africanidade nas várias disciplinas, seja por meio dos temas transversais, seja por meio dos temas curriculares, sem recorrer aos clichês da abordagem recorrente, recheada de equívocos.
A referência permanente aos elementos constituidores da brasilidade – a culinária, o folclore, os modos de falar e o vocabulário, os costumes, as vestimentas, as artes, a literatura, a fotografia, a música – é a forma de evidenciar a influência cultural africana na sociedade brasileira. Ainda que a escravidão e a segregação racial (explícita ou velada) sejam temas sempre presentes quando se discute a africanidade no Brasil, é importante focar na contribuição afro-brasileira de forma mais ampla. Consciência negra não se refere apenas à consciência e à autoafirmação dos afrodescendentes a respeito de seu passado e seu presente, mas, sobretudo, à consciência de todos os brasileiros sobre a organização social e a constituição nacional. A miscigenação e as diversas trocas culturais que marcam o povo brasileiro têm em suas raízes africanas a sua essência – talvez sua pedra fundamental –, a qual agregou, acolheu e processou em si a contribuição de outros povos ao longo dos séculos de colonização para formar o Brasil do século 21.

O plano didático a seguir propõe a utilização de fontes e de referências históricas, musicais e antropológicas, com o intuito de levar os alunos a refletir, de maneira crítica e analítica, a respeito da contribuição africana para o desenvolvimento e a evolução do Brasil contemporâneo.

OBJETIVOS
Compreender a contribuição africana para a constituição da identidade brasileira, por meio do desenvolvimento sociocultural e musical;
Identificar as diversas origens dessas contribuições;
Reconhecer e ouvir a obra de compositores afrodescendentes;
Produzir textos e infográficos que apresentem as principais contribuições da cultura negra para a sociedade brasileira.

CONTEÚDOS
- Formação da sociedade brasileira;
- Cultura e música afro-brasileiras.
Materiais necessários:
Textos e músicas indicados para o trabalho; publicações e gravações; computador; aparelho projetor (data show) para apresentação de trabalhos.

DESENVOLVIMENTO
Primeira etapa: as contribuições africanas nas raízes brasileiras
Inicie a sequência com uma contextualização a respeito do tema consciência negra com seus alunos. Pergunte o que sabem a respeito do Dia da Consciência Negra e o que isso significa para eles. Após ouvir os comentários, faça uma explanação sobre a história da escravidão no período colonial e durante o Império. Aqui, é possível expor e discutir o quanto a escravidão foi uma experiência que marcou profundamente as relações sociais e de trabalho no Brasil e também como surgiu o problema do preconceito racial e social que ainda persiste em nossa sociedade. Nessa etapa, explane sobre a economia colonial, que tinha como base o trabalho escravo e o tráfico negreiro. Explique aos alunos que esse tipo de economia teve início logo nos primórdios do século 16, atingiu seu auge com o ciclo da cana de açúcar, persistiu com o ciclo do ouro e permaneceu como base da economia do período Imperial, já no Brasil Independente. O estigma da escravidão ainda impõe suas consequências, pois existe preconceito social e racial, ainda que camuflado, nas diversas camadas sociais. Utilize referências iconográficas para ilustrar a apresentação.

Alguns aspectos da história da escravidão no Brasil (cuja abordagem nem sempre é adequada): as diversas etnias que foram escravizadas e suas origens em pontos geográficos distintos, as religiões que se fixaram no Brasil desde o início da escravidão, a contribuição da cultura dos povos africanos para a formação de religiões afro-brasileiras, da música, da culinária, do vestuário e da língua portuguesa e também a história de resistência dos quilombos, cujo ponto central é a formação do Quilombo dos Palmares, em Alagoas, no século 17, e sua liderança por Zumbi dos Palmares.

Como referência, utilize o livro A incrível e fascinante história do Capitão Mouro, de Georges Bourdoukan (Editora Casa Amarela, 1999), e o filme Atlântico negro: na rota dos orixás, dirigido por Renato Barbieri. O livro conta a história de Zumbi e das relações sociais na colônia durante o século 16, por meio do intrigante relato do encontro entre um náufrago muçulmano e um comerciante judeu que vieram ao Brasil e tiveram participação na resistência do Quilombo de Palmares contra os ataques portugueses. A essa abordagem inusitada e pouco usual, o documentário – rodado no Maranhão, na Bahia, em Benin e na Nigéria – complementa a análise, com base em aspectos esquecidos ou quase nunca mencionados: as surpreendentes interações entre religião, cultura, língua e identidade afro-brasileiras, a história dos “retornados” – escravos que foram obrigados a voltar à África contra sua vontade –, as comunidades de origem brasileira em Benin e na Nigéria, as mesquitas africanas construídas a partir do modelo das igrejas barrocas brasileiras, entre outros.

Essa abordagem inusitada e diferente do currículo tradicional pode servir como estímulo para a produção de textos ou a apresentação de trabalhos em equipe a respeito das informações e dos conhecimentos analisados.

Segunda etapa: as origens da música brasileira
A música brasileira é um tema prazeroso. As riquíssimas contribuições afro-brasileiras tiveram início com a escravidão. Apesar da tentativa dos mercadores e senhores de escravos de destituir os indivíduos escravizados de sua memória, sua língua e sua cultura, a resistência cultural dos escravos conseguiu não apenas manter suas raízes como também formar um caldo cultural com elementos europeus e indígenas. Essa fusão daria base para o surgimento e a fixação da música brasileira ao final do século 19.

Destaque à contribuição africana por meio da diversidade de ritmos, instrumentos, formas de tocar, cantos e danças. Ilustre a exposição com imagens e sons de alguns desses ritmos e instrumentos. O disco O canto dos escravos, de 1982, com interpretações de Tia Doca, da Velha Guarda da Portela, Geraldo Filme, um dos principais nomes da música paulista, e Clementina de Jesus, maior intérprete do samba tradicional, foi relançado em formato digital, em 2003, pela gravadora Eldorado. O conteúdo é resultado de pesquisas que procuraram encontrar, fixar e realizar um levantamento sonoro das raízes musicais brasileiras, e apresenta em forma tradicional os cantos e ritmos de vários povos africanos que aqui foram escravizados.

A coleção Princípios do choro, composta por cinco volumes, lançada pela gravadora Biscoito Fino com patrocínio da Petrobrás, apresenta gravações inéditas, recuperadas em um trabalho quase arqueológico, o qual proporcionou a fixação de melodias e harmonias das composições dos “chorões” do século 19. Ilustrar a profícua produção musical brasileira do período imperial com essas gravações contemporâneas pode ser uma experiência muito gratificante.

Não deixe de contextualizar o período, falando sobre a chegada da Família Real ao Brasil, em 1808. Do ponto de vista musical, a contribuição mais importante desse acontecimento histórico foi a apresentação das chamadas danças de salão (valsa, polca, mazurca, scottische) e a chegada do piano (instrumento musical proibido na colônia). Em poucas décadas, houve uma proliferação do piano mesmo em casas mais modestas; além disso, a fusão das danças europeias com os ritmos coloniais, principalmente a modinha e o lundu, de origem africana, proporcionaram o nascimento do primeiro gênero musical brasileiro: o choro. Apresente a vida e a obra dos principais compositores do período, quase todos afrodescendentes: Henrique Alves de Mesquita, Joaquim Callado, Viriato Figueira da Silva, Irineu Batista, Anacleto de Medeiros, Chiquinha Gonzaga, Ernesto Nazareth.

Para ilustrar a música brasileira do século 20, não faltam referências: a obra de Pixinguinha, Clementina de Jesus, Donga, João da Baiana, Sinhô, Cartola, entre outros compositores, é bastante indicada, e há vários títulos desses e de outros autores em catálogo. Utilize como referência os livros Almanaque do choro e Almanaque do samba, de André Diniz (ambos pela editora Zahar, 2003), Música popular – um tema em debate, de José Ramos Tinhorão (Editora 34, 1997), e o filme Cartola – música para os olhos, de Lírio Ferreira (2007).

Após a contextualização e a apresentação das principais características da música brasileira, o professor pode sugerir e orientar a produção de um podcast ou programa de rádio para ser veiculado na internet e na escola, tendo como base a pesquisa sobre a formação musical brasileira ao longo de sua história.

AVALIAÇÃO
Ao final do trabalho, além da produção de textos e de podcast, oriente os alunos a produzir um infográfico sobre as contribuições africanas para o desenvolvimento sociocultural, artístico e musical brasileiros. Após a finalização do produto, exponha os resultados na escola.

REFERÊNCIAS
Livros:
Almanaque do choro e Almanaque do samba.André Diniz. Zahar, 2003.
A incrível e fascinante história do Capitão Mouro.Georges Bourdoukan. Casa Amarela, 1999.

Filmes:
Atlântico negro – na rota dos orixás.Renato Barbieri, 1998.
Cartola – música para os olhos. Lírio Ferreira, 2007.
Assista os filmes na aba VÍDEOS desse blog.

Fonografia:
O canto dos escravos.Vários intérpretes. Eldorado, 1982/2003.
Princípios do choro, vol. 1 ao 5.Vários intérpretes. Acari Records, 2001.
Série Dois Momentos: Clementina de Jesus (com Pixinguinha e João da Baiana).Warner Music, 2000.

Verde que te quero rosa. Cartola.Sony/BMG, 2000.

Fonte: Portal Geledés. Disponível em: <http://www.geledes.org.br/plano-de-aula-consciencia-negra-2013/>. Acesso em: 14 jul. 2014.


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ETNOCENTRISMO, ESTEREÓTIPOS, ESTIGMAS, PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO
Publicado em 18 de outubro de 2013
Por: Bianca Wild

Etnocentrismo, estereótipos, estigmas, preconceito e discriminação. “O etnocentrismo consiste em julgar, a partir de padrões culturais próprios, como “certo” ou “errado”, “feio” ou “bonito”, “normal” ou “anormal”, os comportamentos e as formas de ver o mundo dos outros povos, desqualificando suas práticas e até negando sua humanidade. Assim, percebemos como o etnocentrismo se relaciona com o conceito de estereótipo, que consiste na generalização e atribuição de valor (na maioria das vezes, negativo) a algumas características de um grupo, reduzindo-o a essas características e definindo os “lugares de poder” a serem ocupados. É uma generalização de julgamentos subjetivos, feitos em relação a um determinado grupo, impondo-lhe o lugar de inferior e de incapaz, no caso dos estereótipos negativos. No cotidiano, temos expressões que reforçam os estereótipos: “tudo farinha do mesmo saco”; “tal pai, tal filho”; “só podia ser mulher”; “nordestino é preguiçoso”; “serviço de negro”; e uma série de outras expressões e ditados populares específicos de cada região do país.”(Curso de especialização em gênero e sexualidade/Organizadores: Carrara,Sérgio…[et al]. – Rio de Janeiro: CEPESC;Brasília, DF : Secretaria especial de políticas públicas para as mulheres, 2010.)

Os estereótipos são também uma maneira de “biologizar” as ca­racterísticas de um grupo, isto é, considerá-las como fruto exclusivo da biologia, da anatomia. O processo de naturalização ou biologização das diferenças étnico-raciais, de gênero ou de orientação sexual, que marcou os séculos XIX e XX, vinculou-se à restrição da cidadania a negros, mulheres e homossexuais. (Curso de especialização em gênero e sexualidade/Organizadores: Carrara,Sérgio…[et al]. – Rio de Janeiro: CEPESC;Brasília, DF : Secretaria especial de políticas públicas para as mulheres, 2010.)

Uma das justificativas, até o início do século XX, para a não extensão às mulheres do direito de voto, baseava-se na idéia de que elas possuíam um cérebro menor e menos desenvolvido do que o dos homens.A homossexualidade, por sua vez, era tida como uma espécie de anomalia da natureza, ou seja, uma doença. Nas democracias modernas, desigualdades naturais podiam justificar o não acesso pleno à cidadania. No interior de nossa sociedade, encontramos ainda uma série de atitudes etnocêntricas. Muitos acreditaram que havia várias ra­ças e sub-raças, que determinariam, geneticamente, as capacidades das pessoas, hoje sabemos que isso não é verdade. (Curso de especialização em gênero e sexualidade/Organizadores: Carrara,Sérgio…[et al]. – Rio de Janeiro: CEPESC;Brasília, DF : Secretaria especial de políticas públicas para as mulheres, 2010.)

Em se tratando de Brasil, não podemos deixar de falar nas religiões de matriz africana, como o candomblé e umbanda, resultado do sincretismo religioso. O sacrifício animal em algumas crenças afro-brasi­leiras tem sido considerado sinônimo de barbárie, por praticantes de outros credos. Trata-se, contudo, simplesmente de uma forma específica para que homens/mulhe­res entrem em contato com o divino, com os deuses, nesses casos, os orixás, cada qual com sua preferência, no que diz respeito ao ritual de oferenda. Outras religiões pregam formas diversificadas de contato com o divino, classificando e condenando as práticas do candomblé, como “erradas” e “bárbaras”, ou como “feitiçaria”. (Curso de especialização em gênero e sexualidade/Organizadores: Carrara,Sérgio…[et al]. – Rio de Janeiro: CEPESC;Brasília, DF : Secretaria especial de políticas públicas para as mulheres, 2010.)

“O preconceito de alguns segmentos religiosos tem levado seus seguidores a atacar e desrespeitar os chamados “terreiros”. O espiritismo kardecista, hoje praticado nas mais distintas partes do Brasil, foi durante muito tempo perseguido por aqueles que, ado­tando um ponto de vista católico ou médico, afirmavam serem as práticas espíritas próprias de charlatães. Se boa parte dos/as brasileiros/as se define como católica, a verdade é que somos um país cruzado por múltiplas crenças, havendo divergências até mesmo no interior do próprio catolicismo: somos um país plural. A Constituição Brasileira garante a liberdade religiosa e de crença, e as instituições devem promover o respeito entre os/as praticantes de diferentes religiões, além de preservar o direito daqueles/as que não adotam qualquer prática religiosa. No entanto, é bastante comum encontrarmos crianças e adolescentes que exibem, com orgulho, para seus/suas educadores/as, os símbolos de sua primeira comunhão, enquanto famílias que cultuam religiões de matriz africana são pejorativamente chamadas de “macumbeiras”, sendo discrimina­das por suas identidades religiosas.” (Curso de especialização em gênero e sexualidade/Organizadores: Carrara,Sérgio…[et al]. – Rio de Janeiro: CEPESC; Brasília, DF : Secretaria especial de políticas públicas para as mulheres, 2010.)

O preconceito relativo às práticas religiosas afro-brasileiras está profundamente ar­raigado na sociedade brasileira, por essas práticas estarem associadas a negros e ne­gras, grupo historicamente estigmatizado e excluído, e cujos cultos seriam contrários ao cristianismo europeu. Vale lembrar que expressões culturais de matriz afro-bra­sileira como o samba, a capoeira e o candomblé foram, durante décadas, proibidos e perseguidos pela polícia. Isso mostra que essas práticas foram incorporadas aos símbolos nacionais no interior de processos extremamente complexos. O caso mais evidente é o samba, que de “música de negros/as” passou a ser caracteri­zado como “música nacional”. As religiões afro-brasileiras, no entanto, ainda enfren­tam um profundo preconceito por parte de amplos setores da sociedade: há quem considere o candomblé como “dança folclórica”, negando seu conteúdo religioso; há também quem o caracterize como “prática atrasada”. Em ambos os casos, seu caráter de religiosidade é negado e não tomado no mesmo padrão de igualdade de outras práticas e crenças. (Curso de especialização em gênero e sexualidade/Organizadores: Carrara,Sérgio…[et al]. – Rio de Janeiro: CEPESC;Brasília, DF : Secretaria especial de políticas públicas para as mulheres, 2010.)
Questões de gênero, religião, raça/etnia ou orientação sexual e sua combinação di­recionam práticas preconceituosas e discriminatórias da sociedade contemporânea. Se o estereótipo e o preconceito estão no campo das idéias, a discriminação está no campo da ação, ou seja, é uma atitude. É a atitude de discriminar, de negar opor­tunidades, de negar acesso, de negar humanidade. Nessa perspectiva, a omissão e a invisibilidade também são consideradas atitudes, também se constituem em discri­minação. (Curso de especialização em gênero e sexualidade/Organizadores: Carrara,Sérgio…[et al]. – Rio de Janeiro: CEPESC;Brasília, DF : Secretaria especial de políticas públicas para as mulheres, 2010.)

Cada grupo social tende a adotar determinada postura frente ao outro, essa seria justamente sua forma de representação. A afirmação social de uma representação tem como base fundamental a ação e a comunicação. Ela encadeia pensamento e linguagem o que permite a compreensão do mundo e assimilação das relações que nele se estabelecem.Para compreendermos quem somos em grupo, como coletividade, ou quem somos individualmente, como indivíduos, dependemos da interpretação e do reconhecimento que nos é dado pelos outros. “Ninguém pode edificar a sua própria identidade independentemente das identificações que os outros fazem dele” Habermas (1983).

O reconhecimento pelos outros é uma necessidade humana, já que o ser humano é um ser que só existe através da vida social . De acordo com Taylor (1994), “um indivíduo ou um grupo de pessoas podem sofrer um verdadeiro dano, uma autêntica deformação se a gente ou a sociedade que os rodeiam lhes mostram como reflexo, uma imagem limitada, degradante, depreciada sobre ele.”

Um falso reconhecimento é uma forma de opressão. A imagem que construímos muitas vezes sobre os portadores de deficiências, prostitutas, homossexuais, etc. é deprimente e humilhante e causa-lhes sofrimento e humilhação, ainda mais por que tais representações depreciativas são construídas quase sempre para a legitimação da exclusão social e política dos grupos discriminados.Segundo Taylor (1994), “a projeção sobre o outro de uma imagem inferior ou humilhante pode deformar e oprimir até o ponto em que essa imagem seja internalizada”.“O preconceito seja ele do tipo que for, é um atestado de insegurança, de autoritarismo, de absolutismo intelectual, enquadrando automaticamente em categorias classificatórias e pejorativas tudo aquilo que represente diferença. No fundo, viver em democracia está na proporção direta do quanto somos pessoal e coletivamente capazes de superar os nossos medos.

O estereótipo é simplesmente o “rótulo” com que costumamos classificar certos grupos de pessoas, e é muito mais comum do que possa parecer. É introduzido no seio da sociedade e se agrega a psique das pessoas por meio de anedotas, frases feitas, contos populares etc, pois, desde a mais tenra idade, as pessoas são condicionadas a acreditar que certos grupos de pessoas estão ligados a determinados atributos ou características.” (Otávio B. Lopes)
As sociedades contemporâneas são heterogêneas, ou seja, compostas por diferentes grupos humanos, classes e identidades culturais em conflito. Vivemos em sociedades nas quais os diferentes estão constantemente em contato.

Fonte: Portal Geledés. Disponível em: <http://www.geledes.org.br/etnocentrismo-estereotipos-estigmas-preconceito-e-discriminacao/>. Acesso em: 14 jul. 2014.

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