PLANOS DE AULA
O 13 DE MAIO E A ESCOLA: A ESCRAVIDÃO NO BRASIL
Publicado
em 10 de maio de 2012
Por
Noé Gomes
No dia 13 de maio
de 1888 oficialmente é mencionado no calendário oficial, como marco final da
escravidão no Brasil, que desde o período colonial, em 1500, os seus
colonizadores (os portugueses) adotaram o escravismo como mão-de-obra para a
extração de nossas riquezas.
O processo de
escravidão no Brasil, começou com os indígenas, quando nos 30 primeiros anos de
ocupação portuguesa em solo brasileiro viveu o ciclo da extração do pau-brasil
para a Europa, onde os indígenas eram usados neste momento, tendo os
portugueses valendo-se do escambo para a concretização deste processo. Nos anos
posteriores, teve inicio o Ciclo do Açucar, onde os colonizadores tentaram
cooptar a mão-de-obra escrava indígena, mas sem sucesso. Ainda no século XVI,
em substituição a mão-de-obra nativa, vieram os primeiros negros que até o
século XIX, que foram subjugados ao poder dos colonizadores portugueses.
A mão-de-obra
escrava negra, foi substituída pelos colonizadores europeus a partir da segunda
década do século XIX, desde então o negro torna-se um agente á margem da
sociedade, pois liberto do processo escravocrata acaba vivendo a falta de
oportunidades.
O 13 de maio é
contestado pelo Movimento Negro, que elegeu o dia 21 de novembro como a data da
Consciência Negra, mas porque não fazer de hoje, uma data de reflexão? Mesmo
sendo oficialista, penso que o 13 de maio pode servir para o debate e reflexão
do negro hoje. Este debate tem que ser feito principalmente na Escola. O
antropólogo Kabengele Munanga, na página 15 do livro “Superando o Racismo na
Escola”, na condição de organizador da obra, faz um apontamento importante:
Partindo da tomada
de consciência dessa realidade, sabemos que nossos instrumentos de trabalho na
escola e na sala de aula, isto é, os livros e outros materiais didáticos
visuais e audiovisuais carregam os mesmo conteúdos viciados, depreciativos e
preconceituoso em relação aos povos e culturas não oriundos do mundo ocidental.
Os mesmos preconceitos permeiam também o cotidiano das relações sociais de
alunos entre si e de alunos com professores no espaço escolar. No entanto,
alguns professores, por falta de preparo ou por preconceitos neles
introjetados, não sabem lançar mão das situações flagrantes de discriminação no
espaço escolar e na sala como momento pedagógico privilegiado para discutir a
diversidade e conscientizar seus alunos sobre a importância e a riqueza que ela
traz à nossa cultura e à nossa identidade nacional. Na maioria dos casos,
praticam a política de avestruz ou sentem pena dos “coitadinhos” (…)
Proponho a todos
nós docentes de escolas públicas e/ ou privadas a fazermos uma reflexão crítica
sobre a simbologia desta data. Afirmar que o 13 de maio é uma data oficialista,
o que não deixa de ser verdade, é muito pouco! Penso que não pode haver um hiato
entre o 13 de maio e o 21 de novembro. Por isso, esta data pode servir de
pontapé inicial de uma reflexão sobre o papel do negro em nossa história.
Numa visão de uma
“História Vista de Baixo”, o 13 de maio com certeza é uma data que nada tem de
popular e por isso no ambiente escolar podemos suscitar a discussão ou a
inquietação em nossos alunos ao expôr o questionamento da sua validade
histórica e talvez possamos trazer em nosso fazer pedagógico a contradição de
ideias e não uma visão única e acada dos fatos históricos.
Para auxiliarmos
nesta reflexão, é que trazemos o programa “Caminhos da Reportagem” sobre o
negro no Brasil, um programa feito às vésperas do dia 21 de novembro e que fala
da situação do negro, no Brasil do século XXI. Assista o programa na aba VÍDEOS
desse blog.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
MUNANGA, Kabengele
(org,). Superando o Racismo na escola. 2ª edição revisada. Brasília: Ministério
da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade,
2005.
O livro Superando
o Racismo na Escola está disponível para download neste blog.
Fonte: Portal Geledés. Disponível em: <http://www.geledes.org.br/o-13-de-maio-e-escola-escravidao-brasil/>. Acesso em: 14 jul. 2014.
Fonte: Portal Geledés. Disponível em: <http://www.geledes.org.br/o-13-de-maio-e-escola-escravidao-brasil/>. Acesso em: 14 jul. 2014.
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CONSCIÊNCIA
NEGRA
Publicado
em 7 de novembro de 2013
Autor: André
Luis Rosa e Silva é mestre em Educação, professor de Literatura e de Língua
Portuguesa
As contribuições africanas para a formação e a
constituição da sociedade brasileira fazem parte do imaginário coletivo
nacional. Para compreender o que é o Brasil em suas raízes mais profundas, é
fundamental a análise acurada das vertentes dessa numerosa contribuição em seus
vieses cultural, social, afetivo, musical, literário, artístico, religioso e
arquitetônico. É espantoso, porém, o modo como ainda persistem dúvidas, erros,
controvérsias, preconceito e desconhecimento da história dos negros no Brasil
quando se aborda o tema consciência negra na escola. Para mudar esse quadro, é
preciso abandonar os velhos clichês e apresentar o tema de maneira mais
propositiva, buscando o conhecimento e o reconhecimento das tradições
afro-brasileiras. Só assim é possível dirimir as discrepâncias e a infâmia dos
mais de três séculos de escravidão.
Quando se fala nas artes, na música e na literatura,
são muitos os nomes afro-brasileiros que vêm à tona entre os principais vultos
de nossa história: Zumbi dos Palmares, herói da liberdade, mito fundador da
ideia de autonomia nacional; Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, criador
de importantes obras da arte barroca brasileira; o poeta Cruz e Souza,
renovador das letras nacionais, que colocou a literatura brasileira em
consonância com seu tempo; o romancista Lima Barreto, autor da mais autêntica
descrição das idiossincrasias e contradições da Primeira República; os
engenheiros Rebouças, responsáveis pela construção da estrada de ferro
Curitiba-Paranaguá, uma das obras de engenharia mais importantes do século 19,
que até hoje impressiona pela ousadia; os pintores Estevão Silva, Emmanuel
Zamor, Artur e João Timóteo da Costa; os esportistas Leônidas da Silva,
Garrincha, Ademir da Guia, João do Pulo, sempre lembrados entre os mais
autênticos heróis populares brasileiros; os músicos Henrique Mesquita, Joaquim
Callado, Anacleto de Medeiros, Pixinguinha, João da Baiana, Clementina de
Jesus, Sinhô e Cartola, fundadores da música brasileira. A citação poderia continuar
indefinidamente, acrescida de nomes plenamente reconhecíveis nas mais diversas
áreas e indissociáveis dos maiores feitos nacionais.
Mesmo assim, é possível afirmar que a maneira como a
escola trata do tema da consciência negra é marcada, em geral, por
superficialidade – ainda que a abordagem tenha evoluído bastante nos últimos
tempos graças, sem dúvidas, às ações afirmativas e à abordagem mais positiva da
história dos negros no Brasil.
Partindo da diversidade que marca a influência
africana na cultura brasileira, é plenamente possível realizar ações
transdisciplinares para desenvolver o tema na escola. É um grande desafio aos
mestres pensarem em métodos de inclusão da africanidade nas várias disciplinas,
seja por meio dos temas transversais, seja por meio dos temas curriculares, sem
recorrer aos clichês da abordagem recorrente, recheada de equívocos.
A referência permanente aos elementos constituidores
da brasilidade – a culinária, o folclore, os modos de falar e o vocabulário, os
costumes, as vestimentas, as artes, a literatura, a fotografia, a música – é a
forma de evidenciar a influência cultural africana na sociedade brasileira.
Ainda que a escravidão e a segregação racial (explícita ou velada) sejam temas
sempre presentes quando se discute a africanidade no Brasil, é importante focar
na contribuição afro-brasileira de forma mais ampla. Consciência negra não se
refere apenas à consciência e à autoafirmação dos afrodescendentes a respeito
de seu passado e seu presente, mas, sobretudo, à consciência de todos os
brasileiros sobre a organização social e a constituição nacional. A
miscigenação e as diversas trocas culturais que marcam o povo brasileiro têm em
suas raízes africanas a sua essência – talvez sua pedra fundamental –, a qual
agregou, acolheu e processou em si a contribuição de outros povos ao longo dos
séculos de colonização para formar o Brasil do século 21.
O plano didático a seguir propõe a utilização de
fontes e de referências históricas, musicais e antropológicas, com o intuito de
levar os alunos a refletir, de maneira crítica e analítica, a respeito da
contribuição africana para o desenvolvimento e a evolução do Brasil
contemporâneo.
OBJETIVOS
Compreender a contribuição africana para a
constituição da identidade brasileira, por meio do desenvolvimento
sociocultural e musical;
Identificar as diversas origens dessas
contribuições;
Reconhecer e ouvir a obra de compositores
afrodescendentes;
Produzir textos e infográficos que apresentem as
principais contribuições da cultura negra para a sociedade brasileira.
CONTEÚDOS
- Formação da sociedade brasileira;
- Cultura e música afro-brasileiras.
Materiais necessários:
Textos e músicas indicados para o trabalho;
publicações e gravações; computador; aparelho projetor (data show) para
apresentação de trabalhos.
DESENVOLVIMENTO
Primeira
etapa: as contribuições africanas nas raízes brasileiras
Inicie a sequência com uma contextualização a
respeito do tema consciência negra com seus alunos. Pergunte o que sabem a
respeito do Dia da Consciência Negra e o que isso significa para eles. Após
ouvir os comentários, faça uma explanação sobre a história da escravidão no
período colonial e durante o Império. Aqui, é possível expor e discutir o
quanto a escravidão foi uma experiência que marcou profundamente as relações
sociais e de trabalho no Brasil e também como surgiu o problema do preconceito
racial e social que ainda persiste em nossa sociedade. Nessa etapa, explane
sobre a economia colonial, que tinha como base o trabalho escravo e o tráfico
negreiro. Explique aos alunos que esse tipo de economia teve início logo nos
primórdios do século 16, atingiu seu auge com o ciclo da cana de açúcar,
persistiu com o ciclo do ouro e permaneceu como base da economia do período
Imperial, já no Brasil Independente. O estigma da escravidão ainda impõe suas
consequências, pois existe preconceito social e racial, ainda que camuflado,
nas diversas camadas sociais. Utilize referências iconográficas para ilustrar a
apresentação.
Alguns aspectos da história da escravidão no Brasil
(cuja abordagem nem sempre é adequada): as diversas etnias que foram
escravizadas e suas origens em pontos geográficos distintos, as religiões que
se fixaram no Brasil desde o início da escravidão, a contribuição da cultura
dos povos africanos para a formação de religiões afro-brasileiras, da música,
da culinária, do vestuário e da língua portuguesa e também a história de
resistência dos quilombos, cujo ponto central é a formação do Quilombo dos
Palmares, em Alagoas, no século 17, e sua liderança por Zumbi dos Palmares.
Como referência, utilize o livro A incrível e
fascinante história do Capitão Mouro, de Georges Bourdoukan (Editora Casa
Amarela, 1999), e o filme Atlântico negro: na rota dos orixás, dirigido por
Renato Barbieri. O livro conta a história de Zumbi e das relações sociais na
colônia durante o século 16, por meio do intrigante relato do encontro entre um
náufrago muçulmano e um comerciante judeu que vieram ao Brasil e tiveram
participação na resistência do Quilombo de Palmares contra os ataques
portugueses. A essa abordagem inusitada e pouco usual, o documentário – rodado
no Maranhão, na Bahia, em Benin e na Nigéria – complementa a análise, com base
em aspectos esquecidos ou quase nunca mencionados: as surpreendentes interações
entre religião, cultura, língua e identidade afro-brasileiras, a história dos
“retornados” – escravos que foram obrigados a voltar à África contra sua
vontade –, as comunidades de origem brasileira em Benin e na Nigéria, as
mesquitas africanas construídas a partir do modelo das igrejas barrocas
brasileiras, entre outros.
Essa abordagem inusitada e diferente do currículo
tradicional pode servir como estímulo para a produção de textos ou a
apresentação de trabalhos em equipe a respeito das informações e dos
conhecimentos analisados.
Segunda
etapa: as origens da música brasileira
A música brasileira é um tema prazeroso. As riquíssimas
contribuições afro-brasileiras tiveram início com a escravidão. Apesar da
tentativa dos mercadores e senhores de escravos de destituir os indivíduos
escravizados de sua memória, sua língua e sua cultura, a resistência cultural
dos escravos conseguiu não apenas manter suas raízes como também formar um
caldo cultural com elementos europeus e indígenas. Essa fusão daria base para o
surgimento e a fixação da música brasileira ao final do século 19.
Destaque à contribuição africana por meio da diversidade
de ritmos, instrumentos, formas de tocar, cantos e danças. Ilustre a exposição
com imagens e sons de alguns desses ritmos e instrumentos. O disco O canto dos
escravos, de 1982, com interpretações de Tia Doca, da Velha Guarda da Portela,
Geraldo Filme, um dos principais nomes da música paulista, e Clementina de
Jesus, maior intérprete do samba tradicional, foi relançado em formato digital,
em 2003, pela gravadora Eldorado. O conteúdo é resultado de pesquisas que
procuraram encontrar, fixar e realizar um levantamento sonoro das raízes
musicais brasileiras, e apresenta em forma tradicional os cantos e ritmos de
vários povos africanos que aqui foram escravizados.
A coleção Princípios do choro, composta por cinco
volumes, lançada pela gravadora Biscoito Fino com patrocínio da Petrobrás,
apresenta gravações inéditas, recuperadas em um trabalho quase arqueológico, o
qual proporcionou a fixação de melodias e harmonias das composições dos
“chorões” do século 19. Ilustrar a profícua produção musical brasileira do
período imperial com essas gravações contemporâneas pode ser uma experiência
muito gratificante.
Não deixe de contextualizar o período, falando sobre
a chegada da Família Real ao Brasil, em 1808. Do ponto de vista musical, a
contribuição mais importante desse acontecimento histórico foi a apresentação
das chamadas danças de salão (valsa, polca, mazurca, scottische) e a chegada do
piano (instrumento musical proibido na colônia). Em poucas décadas, houve uma
proliferação do piano mesmo em casas mais modestas; além disso, a fusão das
danças europeias com os ritmos coloniais, principalmente a modinha e o lundu,
de origem africana, proporcionaram o nascimento do primeiro gênero musical
brasileiro: o choro. Apresente a vida e a obra dos principais compositores do
período, quase todos afrodescendentes: Henrique Alves de Mesquita, Joaquim
Callado, Viriato Figueira da Silva, Irineu Batista, Anacleto de Medeiros,
Chiquinha Gonzaga, Ernesto Nazareth.
Para ilustrar a música brasileira do século 20, não
faltam referências: a obra de Pixinguinha, Clementina de Jesus, Donga, João da
Baiana, Sinhô, Cartola, entre outros compositores, é bastante indicada, e há
vários títulos desses e de outros autores em catálogo. Utilize como referência
os livros Almanaque do choro e Almanaque do samba, de André Diniz (ambos pela
editora Zahar, 2003), Música popular – um tema em debate, de José Ramos
Tinhorão (Editora 34, 1997), e o filme Cartola – música para os olhos, de Lírio
Ferreira (2007).
Após a contextualização e a apresentação das principais
características da música brasileira, o professor pode sugerir e orientar a
produção de um podcast ou programa de rádio para ser veiculado na internet e na
escola, tendo como base a pesquisa sobre a formação musical brasileira ao longo
de sua história.
AVALIAÇÃO
Ao final do trabalho, além da produção de textos e
de podcast, oriente os alunos a produzir um infográfico sobre as contribuições
africanas para o desenvolvimento sociocultural, artístico e musical
brasileiros. Após a finalização do produto, exponha os resultados na escola.
REFERÊNCIAS
Livros:
Almanaque do choro e Almanaque do samba.André Diniz.
Zahar, 2003.
A incrível e fascinante história do Capitão
Mouro.Georges Bourdoukan. Casa Amarela, 1999.
Filmes:
Atlântico negro – na rota dos orixás.Renato
Barbieri, 1998.
Cartola – música para os olhos. Lírio Ferreira,
2007.
Assista os filmes na aba VÍDEOS desse blog.
Fonografia:
O canto dos escravos.Vários intérpretes. Eldorado,
1982/2003.
Princípios do choro, vol. 1 ao 5.Vários intérpretes.
Acari Records, 2001.
Série Dois Momentos: Clementina de Jesus (com
Pixinguinha e João da Baiana).Warner Music, 2000.
Verde que te quero rosa. Cartola.Sony/BMG, 2000.
Fonte: Portal Geledés. Disponível em: <http://www.geledes.org.br/plano-de-aula-consciencia-negra-2013/>. Acesso em: 14 jul. 2014.
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ETNOCENTRISMO,
ESTEREÓTIPOS, ESTIGMAS, PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO
Publicado em 18 de outubro de 2013
Por: Bianca Wild
Etnocentrismo, estereótipos, estigmas, preconceito e
discriminação. “O etnocentrismo consiste em julgar, a partir de padrões
culturais próprios, como “certo” ou “errado”, “feio” ou “bonito”, “normal” ou
“anormal”, os comportamentos e as formas de ver o mundo dos outros povos,
desqualificando suas práticas e até negando sua humanidade. Assim, percebemos
como o etnocentrismo se relaciona com o conceito de estereótipo, que consiste
na generalização e atribuição de valor (na maioria das vezes, negativo) a
algumas características de um grupo, reduzindo-o a essas características e
definindo os “lugares de poder” a serem ocupados. É uma generalização de
julgamentos subjetivos, feitos em relação a um determinado grupo, impondo-lhe o
lugar de inferior e de incapaz, no caso dos estereótipos negativos. No
cotidiano, temos expressões que reforçam os estereótipos: “tudo farinha do
mesmo saco”; “tal pai, tal filho”; “só podia ser mulher”; “nordestino é
preguiçoso”; “serviço de negro”; e uma série de outras expressões e ditados
populares específicos de cada região do país.”(Curso de especialização em
gênero e sexualidade/Organizadores: Carrara,Sérgio…[et al]. – Rio de Janeiro:
CEPESC;Brasília, DF : Secretaria especial de políticas públicas para as
mulheres, 2010.)
Os estereótipos são também uma maneira de
“biologizar” as características de um grupo, isto é, considerá-las como fruto
exclusivo da biologia, da anatomia. O processo de naturalização ou biologização
das diferenças étnico-raciais, de gênero ou de orientação sexual, que marcou os
séculos XIX e XX, vinculou-se à restrição da cidadania a negros, mulheres e
homossexuais. (Curso de especialização em gênero e sexualidade/Organizadores:
Carrara,Sérgio…[et al]. – Rio de Janeiro: CEPESC;Brasília, DF : Secretaria
especial de políticas públicas para as mulheres, 2010.)
Uma das justificativas, até o início do século XX,
para a não extensão às mulheres do direito de voto, baseava-se na idéia de que
elas possuíam um cérebro menor e menos desenvolvido do que o dos homens.A
homossexualidade, por sua vez, era tida como uma espécie de anomalia da
natureza, ou seja, uma doença. Nas democracias modernas, desigualdades naturais
podiam justificar o não acesso pleno à cidadania. No interior de nossa sociedade,
encontramos ainda uma série de atitudes etnocêntricas. Muitos acreditaram que
havia várias raças e sub-raças, que determinariam, geneticamente, as
capacidades das pessoas, hoje sabemos que isso não é verdade. (Curso de
especialização em gênero e sexualidade/Organizadores: Carrara,Sérgio…[et al]. –
Rio de Janeiro: CEPESC;Brasília, DF : Secretaria especial de políticas públicas
para as mulheres, 2010.)
Em se tratando de Brasil, não podemos deixar de
falar nas religiões de matriz africana, como o candomblé e umbanda, resultado
do sincretismo religioso. O sacrifício animal em algumas crenças
afro-brasileiras tem sido considerado sinônimo de barbárie, por praticantes de
outros credos. Trata-se, contudo, simplesmente de uma forma específica para que
homens/mulheres entrem em contato com o divino, com os deuses, nesses casos,
os orixás, cada qual com sua preferência, no que diz respeito ao ritual de
oferenda. Outras religiões pregam formas diversificadas de contato com o
divino, classificando e condenando as práticas do candomblé, como “erradas” e
“bárbaras”, ou como “feitiçaria”. (Curso de especialização em gênero e
sexualidade/Organizadores: Carrara,Sérgio…[et al]. – Rio de Janeiro:
CEPESC;Brasília, DF : Secretaria especial de políticas públicas para as
mulheres, 2010.)
“O preconceito de alguns segmentos religiosos tem
levado seus seguidores a atacar e desrespeitar os chamados “terreiros”. O
espiritismo kardecista, hoje praticado nas mais distintas partes do Brasil, foi
durante muito tempo perseguido por aqueles que, adotando um ponto de vista
católico ou médico, afirmavam serem as práticas espíritas próprias de
charlatães. Se boa parte dos/as brasileiros/as se define como católica, a
verdade é que somos um país cruzado por múltiplas crenças, havendo divergências
até mesmo no interior do próprio catolicismo: somos um país plural. A
Constituição Brasileira garante a liberdade religiosa e de crença, e as
instituições devem promover o respeito entre os/as praticantes de diferentes
religiões, além de preservar o direito daqueles/as que não adotam qualquer
prática religiosa. No entanto, é bastante comum encontrarmos crianças e
adolescentes que exibem, com orgulho, para seus/suas educadores/as, os símbolos
de sua primeira comunhão, enquanto famílias que cultuam religiões de matriz
africana são pejorativamente chamadas de “macumbeiras”, sendo discriminadas
por suas identidades religiosas.” (Curso de especialização em gênero e
sexualidade/Organizadores: Carrara,Sérgio…[et al]. – Rio de Janeiro: CEPESC;
Brasília, DF : Secretaria especial de políticas públicas para as mulheres,
2010.)
O preconceito relativo às práticas religiosas
afro-brasileiras está profundamente arraigado na sociedade brasileira, por
essas práticas estarem associadas a negros e negras, grupo historicamente
estigmatizado e excluído, e cujos cultos seriam contrários ao cristianismo
europeu. Vale lembrar que expressões culturais de matriz afro-brasileira como
o samba, a capoeira e o candomblé foram, durante décadas, proibidos e
perseguidos pela polícia. Isso mostra que essas práticas foram incorporadas aos
símbolos nacionais no interior de processos extremamente complexos. O caso mais
evidente é o samba, que de “música de negros/as” passou a ser caracterizado
como “música nacional”. As religiões afro-brasileiras, no entanto, ainda
enfrentam um profundo preconceito por parte de amplos setores da sociedade: há
quem considere o candomblé como “dança folclórica”, negando seu conteúdo
religioso; há também quem o caracterize como “prática atrasada”. Em ambos os
casos, seu caráter de religiosidade é negado e não tomado no mesmo padrão de
igualdade de outras práticas e crenças. (Curso de especialização em gênero e
sexualidade/Organizadores: Carrara,Sérgio…[et al]. – Rio de Janeiro:
CEPESC;Brasília, DF : Secretaria especial de políticas públicas para as
mulheres, 2010.)
Questões de gênero, religião, raça/etnia ou
orientação sexual e sua combinação direcionam práticas preconceituosas e
discriminatórias da sociedade contemporânea. Se o estereótipo e o preconceito
estão no campo das idéias, a discriminação está no campo da ação, ou seja, é
uma atitude. É a atitude de discriminar, de negar oportunidades, de negar
acesso, de negar humanidade. Nessa perspectiva, a omissão e a invisibilidade
também são consideradas atitudes, também se constituem em discriminação.
(Curso de especialização em gênero e sexualidade/Organizadores:
Carrara,Sérgio…[et al]. – Rio de Janeiro: CEPESC;Brasília, DF : Secretaria
especial de políticas públicas para as mulheres, 2010.)
Cada grupo social tende a adotar determinada postura
frente ao outro, essa seria justamente sua forma de representação. A afirmação
social de uma representação tem como base fundamental a ação e a comunicação.
Ela encadeia pensamento e linguagem o que permite a compreensão do mundo e
assimilação das relações que nele se estabelecem.Para compreendermos quem somos
em grupo, como coletividade, ou quem somos individualmente, como indivíduos,
dependemos da interpretação e do reconhecimento que nos é dado pelos outros. “Ninguém
pode edificar a sua própria identidade independentemente das identificações que
os outros fazem dele” Habermas (1983).
O reconhecimento pelos outros é uma necessidade
humana, já que o ser humano é um ser que só existe através da vida social . De
acordo com Taylor (1994), “um indivíduo ou um grupo de pessoas podem sofrer um
verdadeiro dano, uma autêntica deformação se a gente ou a sociedade que os
rodeiam lhes mostram como reflexo, uma imagem limitada, degradante, depreciada
sobre ele.”
Um falso reconhecimento é uma forma de opressão. A
imagem que construímos muitas vezes sobre os portadores de deficiências,
prostitutas, homossexuais, etc. é deprimente e humilhante e causa-lhes
sofrimento e humilhação, ainda mais por que tais representações depreciativas
são construídas quase sempre para a legitimação da exclusão social e política
dos grupos discriminados.Segundo Taylor (1994), “a projeção sobre o outro de
uma imagem inferior ou humilhante pode deformar e oprimir até o ponto em que
essa imagem seja internalizada”.“O preconceito seja ele do tipo que for, é um
atestado de insegurança, de autoritarismo, de absolutismo intelectual,
enquadrando automaticamente em categorias classificatórias e pejorativas tudo
aquilo que represente diferença. No fundo, viver em democracia está na
proporção direta do quanto somos pessoal e coletivamente capazes de superar os
nossos medos.
O estereótipo é simplesmente o “rótulo” com que
costumamos classificar certos grupos de pessoas, e é muito mais comum do que
possa parecer. É introduzido no seio da sociedade e se agrega a psique das
pessoas por meio de anedotas, frases feitas, contos populares etc, pois, desde
a mais tenra idade, as pessoas são condicionadas a acreditar que certos grupos
de pessoas estão ligados a determinados atributos ou características.” (Otávio
B. Lopes)
As sociedades contemporâneas são heterogêneas, ou
seja, compostas por diferentes grupos humanos, classes e identidades culturais
em conflito. Vivemos em sociedades nas quais os diferentes estão constantemente
em contato.
Fonte: Portal Geledés. Disponível em: <http://www.geledes.org.br/etnocentrismo-estereotipos-estigmas-preconceito-e-discriminacao/>.
Acesso em: 14 jul. 2014.
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