Sexta-feira, 18 de julho de 2014
OBJETIVO DA AÇÃO
Geral: Estimular a criação de um ambiente de
respeito às diferenças étnicas na EEEFM Alice Holzmeister em Santa Leopoldina.
Específicos:
- Possibilitar aos alunos o
reconhecimento e a valorização da cultura negra como um componente
importante da construção do Brasil;
- Incluir a questão racial
como conteúdo multidisciplinar durante o ano letivo, por meio da lei
10.639/03, que trata do ensino obrigatório da História e da Cultura
afro-brasileira na educação básica;
- Estimular atividades
culturais oriundas da África como danças, músicas, etc.
Buscaremos
sensibilizar todos os estudantes do ensino médio da Escola Estadual de Ensino
Fundamental e Médio Alice Holzmeister para promover a mudança de atitudes
frente ao preconceito racial e da visão em relação às contribuições dos povos
africanos no Brasil.
JUSTIFICATIVA
O racismo se constitui até os dias de hoje como um
grave problema no mundo e, por isso, o ambiente escolar não está imune à suas
consequências. Sendo assim, cabe questionar qual o papel da escola? Freire
(1996) ensina que escola e educadores devem respeitar os estudantes e
considerar os saberes que eles trazem, inclusive para usá-los no trabalho com
os conteúdos pedagógicos.
Por que não discutir com os alunos a realidade
concreta a que se deva associar a disciplina cujo conteúdo se ensina, a
realidade agressiva em que a violência é a constante e a convivência das
pessoas é muito maior com a morte do que com a vida? Por que não estabelecer
uma “intimidade” entre os saberes curriculares fundamentais aos alunos e a
experiência social que eles têm como indivíduos? Por que não discutir as
implicações política e ideológicas de um tal descaso dos dominantes pelas áreas
pobres da cidade? [...] (FREIRE 1996, p. 30).
Para Chauí (1997) a educação precisa superar sua
garantia apenas na lei e se efetivar na prática proporcionando uma formação
fundamentada na cidadania, superando a perspectiva de que é um espaço que
apenas forma pessoas para transformar-se em local onde os estudantes também
constroem conhecimento de forma autônoma e colaborativa.
Pensar a escola como um espaço de formação que está
inserido num processo mais amplo exige uma mudança de paradigma que supere a
ideia centrada em currículos, disciplinas escolares, regimentos, normas,
provas, teste, conteúdos, etc., e reconheça que suas ações pedagógicas têm
poder de interferir de forma contundente na construção da identidade de meninos
e meninas.
Bourdieu e Passeron
(1975), analisando o sistema de ensino francês, ensinam que a ação pedagógica
garante a escola o direito de se utilizar da violência simbólica, buscando
inculcar valores e arbítrios culturais nos estudantes, com a valorização, por
meio da moral, de certos comportamentos em detrimento de outros. Para eles, o
espaço escolar serve como local de transferência onde o conhecimento é medido
pelo desempenho.
Entende-se por
violência simbólica a ação da escola de ignorar a trajetória dos estudantes de
classes populares, forçando uma interiorização de práticas pertencentes a um
grupo mais poderoso.
O poder simbólico,
poder subordinado, é uma forma transformada, quer dizer, irreconhecível,
transfigurada e legitimada, das outras formas de poder: só se pode passar para
além da alternativa dos modelos energéticos que descrevem as relações de força
e dos modelos cibernéticos que fazem delas relações de comunicação, na condição
de descreverem as leis de transformação que regem a transmutação das diferentes
espécies de capital em capital simbólico e, em especial, o trabalho de
dissimulação e de transfiguração (numa palavra, de eufemização) que garante uma
verdadeira transubstanciação das relações de força fazendo ignorar-reconhecer a
violência que elas encerram objectivamente e transformando-as assim em poder
simbólico, capaz de produzir efeitos reais sem dispêndio aparente de energia
(BORDIEU 2007, p. 15).
Assim, o espaço escolar, embora não pratique
nenhuma violência física, obriga as pessoas a pensarem de forma massificada,
muitas vezes, sem perceberem que estão reproduzindo discursos homogêneos que
valorizam certas formas de viver.
Freire (1996) apontava, através de uma série de
razões históricas, que um dos grandes problemas de nossa educação é a
inexperiência democrática e a centralidade na palavra, no verbo, nos programas
e no discurso. Nesse sentido, a educação é socialmente determinada, ou seja, a
prática educativa e especialmente os objetivos e conteúdos de ensino estão
determinados por fins e exigências sociais, políticas e ideológicas.
Freire (1996) ainda traz como proposta a busca pela
igualdade apostando numa educação que tem como pressuposto o diálogo, em que
todos têm direito à voz e se educam mutuamente. Este diálogo promove uma
reflexão que pode conduzir qualquer indivíduo a um nível crítico elevado que
gera uma ação, que é capaz de emancipá-lo em conjunto.
Gomes (2003) nos mostra que “o olhar lançado sobre
o negro e sua cultura, na escola, tanto pode valorizar identidades e diferenças
quanto pode estigmatizá-las, discriminá-las, segregá-las e até mesmo
negá-las”. Para entender melhor, qualquer exclusão, distinção, restrição
ou preferência baseada na raça, cor e nacionalidade que tenha intenção de
resultar ou anular o reconhecimento de exercícios é considerado como
discriminação racial.
Entendemos que um dos caminhos para a construção de
práticas formadoras que eduquem para a diversidade poderá ser um olhar mais
atento aos caminhos e percurso dos estudantes. Todos nós sabemos que é
essencial e principal de toda escola promover e desenvolver a aprendizagem do
indivíduo nas diferentes dimensões: sociais, cognitivas, emocionais e motoras.
Nesse sentido, a escola deve ser local de diálogo,
de aprender a conviver, vivenciando a própria cultura e respeitando as
diferentes formas de expressão cultural, de ampliar o horizonte de referências
de aluno despertando sua curiosidade para o mundo que o cerca.
Recuperar as origens dessas influências é valorizar
os povos que as trouxeram e seus descendentes, reconhecendo suas lutas pela
defesa de dignidade e da liberdade, atuando na construção cotidiana do Brasil,
dando a voz a um passado que se faz presente em seres humanos que afirmam sua
dignidade na herança cultural que carregam. É também reconhecer a grande dívida
que o Estado brasileiro tem com todos esses povos que vieram de vários países
africanos e foram escravizados aqui, bem como perceber a importância
do negro na construção do processo histórico-cultural do Brasil.
O que se busca do ponto de vista educacional é,
sobretudo, a transformação de atitudes, reconhecimento e valorização de
características específicas e singulares de uma etnia, para combater a
discriminação racial por causa do preconceito e desvalorização da cultura
negra, tão presente na unidade de ensino em questão.
DESCRIÇÃO DA AÇÃO
A proposta deste
projeto é conhecer e valorizar as contribuições dos povos africanos para
construção do Brasil em áreas como cultura, arte, economia, língua, entre
outras.
Serão realizadas
atividades que estimulem os estudantes a buscarem conhecer um pouco sobre a
áfrica para modificar as visões massificadas que tratam esse continente apenas
como local de pobreza e doenças.
Tentaremos buscar
parcerias com a Secretaria de Cultura de Santa Leopoldina, Comunidades
Quilombolas da região e também com coletivos e ONG’s que militem por questões
étnicas e garantia de direitos para os (as) negros (as).
Trabalharemos com o
uso da biblioteca para que os estudantes busquem conhecer palavras usadas em
nosso vocabulário originárias da África e também para levantamento de heróis e
heroínas negros (as).
Em outro momento
usaremos o mapa da África para compreender o processo de demarcação dos
territórios africanos e como esse processo se deu. Ao mesmo tempo diversos
conteúdos sobre a áfrica, escravidão e as contribuições desses povos serão
ministrados nas aulas de história, geografia, filosofia, arte e sociologia de
forma interdisciplinar.
Por fim, os
estudantes farão oficinas de percussão, teatro e danças africanas para serem
apresentados no mês de dezembro no qual finalizaremos o projeto.
CRONOGRAMA
Atividades
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Meses /
2014
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Ago
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Set
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Out
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Nov
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Dez
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Pesquisas na biblioteca sobre palavras, heróis e
heroínas africanos (a)
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X
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Conhecendo o mapa da África
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X
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Aulas de conteúdos que tratem da história da
África
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Oficinas de percussão
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X
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X
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Oficinas de teatro
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X
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X
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Oficinas de dança
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|
X
|
X
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Ensaios
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|
X
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Apresentações das danças, esquetes de teatro e
percussão
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X
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Avaliação
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X
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X
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X
|
X
|
X
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Para execução:
As atividades serão realizadas durante 05 (cinco)
meses.
POPULAÇÃO BENEFICIADA
Todos os alunos que cursam as três séries do ensino
médio na EEEFM Alice Holzmeister em Santa Leopoldina – ES
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, U. F. O déficit cognitivo e a realidade
brasileira. In: AQUINO, Julio Groppa. (Org.) Diferenças e
preconceito na escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus,
1998.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros
Curriculares Nacionais. Brasília: MEC, SEF, 1998.
BUFFA, Ester. Educação e Cidadania: quem educa o
cidadão? São Paulo: Cortez, 1996.
CHAUÍ, Marilena. Cultura e Democracia: o discurso competente e outras falas. São Paulo: Cortez,
1997.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à
prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996 (coleção Leitura).
_______. A importância do Ato de Ler. São Paulo: Cortez, 1997.
GOMES, Nilma Lino. Educação, identidade negra e formação
de professores/as: um olhar sobre o corpo negro e o cabelo crespo. In: Educação e Pesquisa. Revista da Faculdade de Educação da USP. V.
29, n.1. São Paulo: FEUSP.
MINAYO, M. C. de S. (Org.). Pesquisa social:
teoria, método e criatividade. Vozes. Petrópolis –
RJ, 2010.