terça-feira, 5 de agosto de 2014

PLANO DE AÇÃO II



"PINTANDO A ESCOLA DE TODAS AS CORES"

Por Rodrigo Bravin
Sexta-feira, 18 de julho de 2014


OBJETIVO DA AÇÃO
Geral: Estimular a criação de um ambiente de respeito às diferenças étnicas na EEEFM Alice Holzmeister em Santa Leopoldina.
Específicos:
  • Possibilitar aos alunos o reconhecimento e a valorização da cultura negra como um componente importante da construção do Brasil;
  • Incluir a questão racial como conteúdo multidisciplinar durante o ano letivo, por meio da lei 10.639/03, que trata do ensino obrigatório da História e da Cultura afro-brasileira na educação básica;
  • Estimular atividades culturais oriundas da África como danças, músicas, etc. 
Buscaremos sensibilizar todos os estudantes do ensino médio da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Alice Holzmeister para promover a mudança de atitudes frente ao preconceito racial e da visão em relação às contribuições dos povos africanos no Brasil.

JUSTIFICATIVA 
O racismo se constitui até os dias de hoje como um grave problema no mundo e, por isso, o ambiente escolar não está imune à suas consequências. Sendo assim, cabe questionar qual o papel da escola? Freire (1996) ensina que escola e educadores devem respeitar os estudantes e considerar os saberes que eles trazem, inclusive para usá-los no trabalho com os conteúdos pedagógicos.

Por que não discutir com os alunos a realidade concreta a que se deva associar a disciplina cujo conteúdo se ensina, a realidade agressiva em que a violência é a constante e a convivência das pessoas é muito maior com a morte do que com a vida? Por que não estabelecer uma “intimidade” entre os saberes curriculares fundamentais aos alunos e a experiência social que eles têm como indivíduos? Por que não discutir as implicações política e ideológicas de um tal descaso dos dominantes pelas áreas pobres da cidade? [...] (FREIRE 1996, p. 30).

Para Chauí (1997) a educação precisa superar sua garantia apenas na lei e se efetivar na prática proporcionando uma formação fundamentada na cidadania, superando a perspectiva de que é um espaço que apenas forma pessoas para transformar-se em local onde os estudantes também constroem conhecimento de forma autônoma e colaborativa.

Pensar a escola como um espaço de formação que está inserido num processo mais amplo exige uma mudança de paradigma que supere a ideia centrada em currículos, disciplinas escolares, regimentos, normas, provas, teste, conteúdos, etc., e reconheça que suas ações pedagógicas têm poder de interferir de forma contundente na construção da identidade de meninos e meninas.

Bourdieu e Passeron (1975), analisando o sistema de ensino francês, ensinam que a ação pedagógica garante a escola o direito de se utilizar da violência simbólica, buscando inculcar valores e arbítrios culturais nos estudantes, com a valorização, por meio da moral, de certos comportamentos em detrimento de outros. Para eles, o espaço escolar serve como local de transferência onde o conhecimento é medido pelo desempenho.

Entende-se por violência simbólica a ação da escola de ignorar a trajetória dos estudantes de classes populares, forçando uma interiorização de práticas pertencentes a um grupo mais poderoso. 

O poder simbólico, poder subordinado, é uma forma transformada, quer dizer, irreconhecível, transfigurada e legitimada, das outras formas de poder: só se pode passar para além da alternativa dos modelos energéticos que descrevem as relações de força e dos modelos cibernéticos que fazem delas relações de comunicação, na condição de descreverem as leis de transformação que regem a transmutação das diferentes espécies de capital em capital simbólico e, em especial, o trabalho de dissimulação e de transfiguração (numa palavra, de eufemização) que garante uma verdadeira transubstanciação das relações de força fazendo ignorar-reconhecer a violência que elas encerram objectivamente e transformando-as assim em poder simbólico, capaz de produzir efeitos reais sem dispêndio aparente de energia (BORDIEU 2007, p. 15).

Assim, o espaço escolar, embora não pratique nenhuma violência física, obriga as pessoas a pensarem de forma massificada, muitas vezes, sem perceberem que estão reproduzindo discursos homogêneos que valorizam certas formas de viver.

Freire (1996) apontava, através de uma série de razões históricas, que um dos grandes problemas de nossa educação é a inexperiência democrática e a centralidade na palavra, no verbo, nos programas e no discurso. Nesse sentido, a educação é socialmente determinada, ou seja, a prática educativa e especialmente os objetivos e conteúdos de ensino estão determinados por fins e exigências sociais, políticas e ideológicas.

Freire (1996) ainda traz como proposta a busca pela igualdade apostando numa educação que tem como pressuposto o diálogo, em que todos têm direito à voz e se educam mutuamente. Este diálogo promove uma reflexão que pode conduzir qualquer indivíduo a um nível crítico elevado que gera uma ação, que é capaz de emancipá-lo em conjunto.

Gomes (2003) nos mostra que “o olhar lançado sobre o negro e sua cultura, na escola, tanto pode valorizar identidades e diferenças quanto pode estigmatizá-las, discriminá-las, segregá-las e até mesmo negá-las”.  Para entender melhor, qualquer exclusão, distinção, restrição ou preferência baseada na raça, cor e nacionalidade que tenha intenção de resultar ou anular o reconhecimento de exercícios é considerado como discriminação racial.

Entendemos que um dos caminhos para a construção de práticas formadoras que eduquem para a diversidade poderá ser um olhar mais atento aos caminhos e percurso dos estudantes. Todos nós sabemos que é essencial e principal de toda escola promover e desenvolver a aprendizagem do indivíduo nas diferentes dimensões: sociais, cognitivas, emocionais e motoras.

Nesse sentido, a escola deve ser local de diálogo, de aprender a conviver, vivenciando a própria cultura e respeitando as diferentes formas de expressão cultural, de ampliar o horizonte de referências de aluno despertando sua curiosidade para o mundo que o cerca.

Recuperar as origens dessas influências é valorizar os povos que as trouxeram e seus descendentes, reconhecendo suas lutas pela defesa de dignidade e da liberdade, atuando na construção cotidiana do Brasil, dando a voz a um passado que se faz presente em seres humanos que afirmam sua dignidade na herança cultural que carregam. É também reconhecer a grande dívida que o Estado brasileiro tem com todos esses povos que vieram de vários países africanos e foram escravizados aqui, bem como perceber a importância do negro na construção do processo histórico-cultural do Brasil.

O que se busca do ponto de vista educacional é, sobretudo, a transformação de atitudes, reconhecimento e valorização de características específicas e singulares de uma etnia, para combater a discriminação racial por causa do preconceito e desvalorização da cultura negra, tão presente na unidade de ensino em questão.

DESCRIÇÃO DA AÇÃO
A proposta deste projeto é conhecer e valorizar as contribuições dos povos africanos para construção do Brasil em áreas como cultura, arte, economia, língua, entre outras.

Serão realizadas atividades que estimulem os estudantes a buscarem conhecer um pouco sobre a áfrica para modificar as visões massificadas que tratam esse continente apenas como local de pobreza e doenças.

Tentaremos buscar parcerias com a Secretaria de Cultura de Santa Leopoldina, Comunidades Quilombolas da região e também com coletivos e ONG’s que militem por questões étnicas e garantia de direitos para os (as) negros (as).

Trabalharemos com o uso da biblioteca para que os estudantes busquem conhecer palavras usadas em nosso vocabulário originárias da África e também para levantamento de heróis e heroínas negros (as).

Em outro momento usaremos o mapa da África para compreender o processo de demarcação dos territórios africanos e como esse processo se deu. Ao mesmo tempo diversos conteúdos sobre a áfrica, escravidão e as contribuições desses povos serão ministrados nas aulas de história, geografia, filosofia, arte e sociologia de forma interdisciplinar.

Por fim, os estudantes farão oficinas de percussão, teatro e danças africanas para serem apresentados no mês de dezembro no qual finalizaremos o projeto.

CRONOGRAMA


Atividades
Meses / 2014
Ago
Set
Out
Nov
Dez
Pesquisas na biblioteca sobre palavras, heróis e heroínas africanos (a)
X




Conhecendo o mapa   da África
X




Aulas de conteúdos que tratem da história da África





Oficinas de percussão

X
X


Oficinas de teatro

X
X


Oficinas de dança

X
X


Ensaios



X

Apresentações das danças, esquetes de teatro e percussão




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Avaliação
X
X
X
X
X

Para execução:
As atividades serão realizadas durante 05 (cinco) meses.

POPULAÇÃO BENEFICIADA
Todos os alunos que cursam as três séries do ensino médio na EEEFM Alice Holzmeister em Santa Leopoldina – ES 

REFERÊNCIAS 

ARAÚJO, U. F. O déficit cognitivo e a realidade brasileira. In: AQUINO, Julio Groppa. (Org.) Diferenças e preconceito na escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus, 1998.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: MEC, SEF, 1998.

BUFFA, Ester. Educação e Cidadania: quem educa o cidadão? São Paulo: Cortez, 1996.

CHAUÍ, Marilena. Cultura e Democracia: o discurso competente e outras falas. São Paulo: Cortez, 1997.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996 (coleção Leitura).

_______. A importância do Ato de Ler. São Paulo: Cortez, 1997.

GOMES, Nilma Lino. Educação, identidade negra e formação de professores/as: um olhar sobre o corpo negro e o cabelo crespo. In: Educação e Pesquisa. Revista da Faculdade de Educação da USP. V. 29, n.1. São Paulo: FEUSP.

MINAYO, M. C. de S. (Org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Vozes. Petrópolis – RJ, 2010.

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