Por Rosângela Surlo Gomes Ramos
Quarta-feira, 9 de julho de 2014
Principais movimentos antirracistas negros
Para reverter o
quadro de marginalização do negro perante a sociedade, os libertos, ex-escravos
e seus descendentes instituíram os movimentos de mobilização racial no Brasil,
criando incialmente dezenas de grupos (grêmios, clubes ou associações) em alguns
estados da nação.
Em São Paulo, apareceram o Club 13 de Maio dos Homens Pretos
(1902), o Centro Literário dos Homens de Cor (1903), a Sociedade Propugnadora
13 de Maio (1906), o Centro Cultural Henrique Dias (1908), dentre muitas
outras, e simultaneamente, apareceu o que se denominava imprensa negra: jornais
publicados por negros e elaborados para tratar de suas questões. Para um dos
principais dirigentes negros da época, José Correa Leite, “a comunidade negra
tinha necessidade de uma imprensa alternativa”, que transmitisse informações
que não se obtinha em outra parte. Os jornais negros assumiram um discurso
crítico às formas de preconceito praticado na sociedade e, ao mesmo tempo,
procuravam incutir nos/as negros/as
valores e crenças sociais compatíveis à integração desse segmento à ordem
social e econômica burguesa. Esses jornais enfocavam as mais diversas mazelas
que afetavam a população negra no âmbito do trabalho, da habitação, da educação
e da saúde. Tornando-se uma tribuna privilegiada para se pensar em soluções
concretas para o problema do racismo na sociedade brasileira.
Principais
instrumentos e/ou estratégias utilizados por eles, para discutir o preconceito
racial
Uma das estratégias
utilizadas para discutir o preconceito racial se deu através da imprensa negra,
que representava um importante papel na divulgação, conscientização e discussão
dos direitos do negro/a, e também através de construções de espaços próprios de
sociabilidade, onde pudessem evitar constrangimentos de cunho social nos momentos
de lazer e onde pudessem discutir situações de preconceito racial vivenciadas
pelos membros desse grupo. Onde propiciava espaços de lazer, de estética, de
profissionalização, de participação política. Ou seja, o propósito da
organização era exatamente garantir a proteção social àqueles/as que estavam
visivelmente desamparados/as, uma vez que o Estado ainda não dispunha de
sistema amplo, universal e capaz de atender a todos/as cidadãos/ãs.
A participação
das mulheres nestes movimentos
As mulheres negras
não tinham apenas importância simbólica no movimento negro. Segundo depoimento
do antigo ativista Francisco Lucrécio, elas “eram mais assíduas na luta em
favor do negro, de forma que na frente [Negra] a maior parte eram mulheres. Era
um contingente muito grande, eram elas que faziam todo o movimento.”
Segundo Lélia
Gonzalez, que foi a intelectual negra que melhor expressou o contexto político
da redemocratização, pois sintetizou uma corrente do pensamento político negro
nas categorias elementares de raça, classe e sexo: “é a mulher negra anônima,
sustentáculo econômico, afetivo e moral de sua família, aquela que desempenha o
papel mais importante. Exatamente porque, com sua força e corajosa capacidade
de luta pela sobrevivência, transmite as suas irmãs mais afortunadas, o ímpeto
de não nos recusarmos à luta pelo nosso povo. Mas, sobretudo porque, como a
dialética do senhor e do escravo de Hegel – apesar da pobreza, da solidão
quanto a um companheiro, da aparente submissão, é ela a portadora da chama da libertação,
justamente por que não tem nada a perder.” (Gonzalez: 1982:104).
A mulher negra sempre
necessitou estar inserida na luta por melhores condições de existência, e isto
se dava por diversas formas de organização, desde o período escravista, no
pós-abolição e até os dias atuais, com organizações que nem sempre se
acomodaram nos moldes formais, mas que sempre foram contestantes.
Para Araujo (2001),
são motivadas pelo desejo de transformação da sua realidade que as mulheres
negras aderiram aos movimentos feministas. Ao longo de sua trajetória, o
feminismo criou tanto novos valores nas relações sociais como também muitos
mitos de origem, entre eles o que se traduzia no paradigma de que todas as
mulheres são iguais.
REFERÊNCIAS
Disponível em: http://www.fundaj.gov.br/geral/observanordeste/valdenice.pdf acessado em 07/07/2014.