sexta-feira, 18 de julho de 2014

Movimento negro e movimento de mulheres negras: uma agenda contra o racismo

Por Rosângela Surlo Gomes Ramos
Quarta-feira, 9 de julho de 2014

Principais movimentos antirracistas negros 

Para reverter o quadro de marginalização do negro perante a sociedade, os libertos, ex-escravos e seus descendentes instituíram os movimentos de mobilização racial no Brasil, criando incialmente dezenas de grupos (grêmios, clubes ou associações) em alguns estados da nação.

Em São Paulo, apareceram o Club 13 de Maio dos Homens Pretos (1902), o Centro Literário dos Homens de Cor (1903), a Sociedade Propugnadora 13 de Maio (1906), o Centro Cultural Henrique Dias (1908), dentre muitas outras, e simultaneamente, apareceu o que se denominava imprensa negra: jornais publicados por negros e elaborados para tratar de suas questões. Para um dos principais dirigentes negros da época, José Correa Leite, “a comunidade negra tinha necessidade de uma imprensa alternativa”, que transmitisse informações que não se obtinha em outra parte. Os jornais negros assumiram um discurso crítico às formas de preconceito praticado na sociedade e, ao mesmo tempo, procuravam incutir nos/as  negros/as valores e crenças sociais compatíveis à integração desse segmento à ordem social e econômica burguesa. Esses jornais enfocavam as mais diversas mazelas que afetavam a população negra no âmbito do trabalho, da habitação, da educação e da saúde. Tornando-se uma tribuna privilegiada para se pensar em soluções concretas para o problema do racismo na sociedade brasileira.


Principais instrumentos e/ou estratégias utilizados por eles, para discutir o preconceito racial 

Uma das estratégias utilizadas para discutir o preconceito racial se deu através da imprensa negra, que representava um importante papel na divulgação, conscientização e discussão dos direitos do negro/a, e também através de construções de espaços próprios de sociabilidade, onde pudessem evitar constrangimentos de cunho social nos momentos de lazer e onde pudessem discutir situações de preconceito racial vivenciadas pelos membros desse grupo. Onde propiciava espaços de lazer, de estética, de profissionalização, de participação política. Ou seja, o propósito da organização era exatamente garantir a proteção social àqueles/as que estavam visivelmente desamparados/as, uma vez que o Estado ainda não dispunha de sistema amplo, universal e capaz de atender a todos/as cidadãos/ãs.


A participação das mulheres nestes movimentos

As mulheres negras não tinham apenas importância simbólica no movimento negro. Segundo depoimento do antigo ativista Francisco Lucrécio, elas “eram mais assíduas na luta em favor do negro, de forma que na frente [Negra] a maior parte eram mulheres. Era um contingente muito grande, eram elas que faziam todo o movimento.”

Segundo Lélia Gonzalez, que foi a intelectual negra que melhor expressou o contexto político da redemocratização, pois sintetizou uma corrente do pensamento político negro nas categorias elementares de raça, classe e sexo: “é a mulher negra anônima, sustentáculo econômico, afetivo e moral de sua família, aquela que desempenha o papel mais importante. Exatamente porque, com sua força e corajosa capacidade de luta pela sobrevivência, transmite as suas irmãs mais afortunadas, o ímpeto de não nos recusarmos à luta pelo nosso povo. Mas, sobretudo porque, como a dialética do senhor e do escravo de Hegel – apesar da pobreza, da solidão quanto a um companheiro, da aparente submissão, é ela a portadora da chama da libertação, justamente por que não tem nada a perder.” (Gonzalez: 1982:104).

A mulher negra sempre necessitou estar inserida na luta por melhores condições de existência, e isto se dava por diversas formas de organização, desde o período escravista, no pós-abolição e até os dias atuais, com organizações que nem sempre se acomodaram nos moldes formais, mas que sempre foram contestantes.

Para Araujo (2001), são motivadas pelo desejo de transformação da sua realidade que as mulheres negras aderiram aos movimentos feministas. Ao longo de sua trajetória, o feminismo criou tanto novos valores nas relações sociais como também muitos mitos de origem, entre eles o que se traduzia no paradigma de que todas as mulheres são iguais.
  
REFERÊNCIAS
Disponível em: http://www.fundaj.gov.br/geral/observanordeste/valdenice.pdf acessado em 07/07/2014.


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